Israel avança no norte de Gaza, onde dizia ter derrotado o Hamas há meses

Combates acontecem enquanto tanques se dirigem a Rafah, no sul, apesar da preocupação de aliados históricos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Exército de Israel avançou, nesta segunda-feira (13), em áreas do norte da Faixa de Gaza nas quais Tel Aviv havia comemorado o desmantelamento do grupo terrorista Hamas. A movimentação indica que a facção está se reagrupando em algumas dessas regiões.

A Força Aérea israelense comunicou na plataforma X ter atingido 120 alvos em Gaza nesta segunda. Alguns dos ataques ocorreram na cidade de Jabalia e no bairro Al-Zeitoun, a leste da Cidade de Gaza. Ambas as localidades ficam na porção norte do território.

Meninos observam fumaça subindo após ataques israelenses no leste de Rafah, no sul da Faixa de Gaza - AFP

Tel Aviv alega que a retomada dos combates na região sempre fez parte de seus planos para impedir que os combatentes retornassem. Os palestinos, por sua vez, dizem que a necessidade de retornar a campos de refugiados é a prova de que os objetivos militares israelenses são inatingíveis.

Em Jabalia, o maior dos oito campos de refugiados de Gaza construídos há 75 anos para abrigar palestinos expulsos do território que hoje é Israel, autoridades de saúde ligadas ao Hamas disseram ter recuperado 20 corpos após ataques aéreos noturnos.

Moradores fugiram de suas casas carregando sacolas em ruas cheias de destroços. Eles afirmaram à agência de notícias Reuters que projéteis de tanques estavam caindo no centro do campo e que ataques aéreos haviam destruído várias casas.

De acordo com a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, hoje a Faixa de Gaza tem 1,7 milhão de deslocados internos, o que representa 75% da população do território, formado por 2,4 milhões de habitantes. Segundo o órgão, 360 mil pessoas já fugiram de Rafah, no sul, desde que Israel começou a ordenar a desocupação de parte da cidade.

Nessa região próxima da fronteira com o Egito que é refúgio para mais de 1 milhão de palestinos, os moradores dizem que bombardeios aéreos e terrestres estão se intensificando. Também relatam que tanques bloquearam um trecho de uma das principais estradas de Gaza, a Salah al-Din.

Apesar da preocupação de organizações humanitárias e da comunidade internacional, Israel estendeu a ordem de retirada direcionada ao leste da cidade para moradores de áreas centrais.

A oposição ao plano de invadir Rafah por terra inclui até aliados históricos, como os Estados Unidos. Neste domingo, o secretário do departamento de Estado, Antony Blinken, afirmou que a guerra matou mais civis do que membros do Hamas e que uma operação em Rafah não eliminará o grupo terrorista.

"Vimos o Hamas voltar às áreas que Israel libertou no norte", afirmou o funcionário americano à emissora NBC.

Já nesta segunda, a Casa Branca afirmou que não enxerga as mortes causadas por Israel em Gaza como genocídio da população palestina, mas condenou ataques de colonos israelenses contra comboios de ajuda humanitária. No Brasil, o presidente Lula já chamou as ações de Tel Aviv em Gaza de genocídio.

Segundo autoridades de Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007, mais de 35 mil pessoas, incluindo quase 8.000 crianças e 5.000 mulheres, foram mortas desde o início da ofensiva, em outubro do ano passado. O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, tentou justificar a alta mortandade em uma entrevista ao podcast Call Me Back nesta segunda dizendo que praticamente metade dos mortos eram combatentes do Hamas, e a outra metade, civis.

Os que sobrevivem encaram uma catástrofe humanitária. De acordo com dados reunidos pelo escritório de ajuda humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês), 1,1 milhão de pessoas passam fome no território atualmente. Já a entrada de mantimentos está ainda mais limitada devido aos bloqueios de Israel.

Após o ataque do Hamas, Gaza ficou duas semanas sem receber nenhum caminhão de ajuda humanitária antes de parte das fronteiras serem reabertas com a pressão internacional. Na última semana, o território voltou a ficar isolado por pelo menos quatro dias depois que integrantes do Hamas atacaram o posto de Kerem Shalom, no sul de Gaza. No domingo (12), o Exército de Israel disse ter aberto a passagem de Erez, no norte.

Segundo o site Axios, Israel propôs, na semana passada, que a Autoridade Palestina enviasse representantes para coordenar a passagem de Rafah, também no sul. A informação sobre o órgão que governa a Cisjordânia, outro território palestino ocupado por Tel Aviv, é atribuída pelo site a quatro funcionários americanos.

A falta de ajuda pode fazer mais hospitais pararem de operar em breve, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. "Estamos a poucas horas do colapso do sistema de saúde na Faixa de Gaza devido à falta de combustível", afirmou a pasta nesta segunda. Na véspera, o Ministério da Defesa de Israel disse que havia transferido 266 mil litros de combustível para necessidades humanitárias.

Também nesta segunda, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que mais de mil membros do Hamas recebem atendimento médico em hospitais de seu país. O líder não considera o grupo uma organização terrorista, ao contrário de Israel, EUA e União Europeia. "Pelo contrário, o Hamas é uma organização de resistência", afirmou o político.

Segundo o Ocha, pelo menos 260 trabalhadores humanitários foram mortos na guerra. Nesta segunda, um funcionário das Nações Unidas morreu e outro ficou ferido após um veículo ser alvejado durante uma viagem a um hospital de Rafah, num incidente ainda não esclarecido.

"O secretário-geral reitera o seu apelo urgente a um cessar-fogo humanitário imediato e à libertação de todos os reféns", afirmou um porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.